Perspectiva comportamental acerca da tatuagem




Este texto trata-se de uma análise embasada na perspectiva behaviorista (psicologia comportamental) do porquê, cada vez mais, há um crescimento de pessoas tatuadas, nesse sentido, minha investigação tem como ponto de partida o que nós, behavioristas, chamamos de: quadro de referência. Mas, afinal de contas, o que é um quadro de referência?

De maneira simplificada, digo que esse quadro é composto pelo contexto histórico, que no caso, é o histórico de determinada sociedade, pelo ambiente, ou seja, tudo que cerca os sujeitos e pelo repertório comportamental, mais precisamente, como é o comportamento de determinada sociedade.

Sabendo-se agora que o quadro de referencia é o ambiente, o contexto histórico e o repertório comportamental e que, a partir desse quadro, será feita a interpretação sobre a tatuagem e a sua interação na sociedade ocidental atualmente, estudaremos a relação funcional deste quadro de referência.

Contexto histórico:

Enquanto ponto de partida, faço um recorte na história, por volta de 1769 quando James Cook desembarcou na Polinésia e percebeu que nesses povos existiam desenhos com tinta preta pelo corpo e, tudo indica, que em função dos polinésios chamarem de tatau, o nome em inglês ficou tattoo. O próprio James Cook aderiu a essa cultura e foi tatuado, assim como seus marinheiros, sendo difundindo a prática da tatuagem entre os marinheiros de baixa patente.








Ao longo do tempo, a tatuagem passou a popularizar-se entre os
marginalizados, dentre eles, detentos e prostitutas, já noutro polo da sociedade, a igreja, dizia que a tatuagem era uma forma de profanar o corpo que é o próprio templo de Deus, segundo concepções cristãs. Ao meu ver, a tatuagem entre os marginalizados era uma maneira, também, de contestação social, no sentido de ir contra a própria igreja, uma vez que os marginais encontravam-se em tal classe social oprimida.

Em meio aos anos 60, a tatuagem foi tendo adesão pelos hippies que contestavam contra, segundo o movimento, a américa imperialista em função da guerra do Vietnã, com isso, percebe-se que a tatuagem, de uma maneira ou de outra, sempre esteve presente na contracultura, nos guetos, com o surgimento do punk rock e  os skinheads, no movimento do hip hop, com o pós punk, e, também, a tatuagem representava o pertencimento de um grupo, como as gangues por exemplo.

          











Ambiente:

Vivemos em uma determinada época em que existe uma busca pela liberdade, pela autonomia de si, há nesse sentido, discursos sociais que priorizam o reconhecimento do indivíduo enquanto um ser dotado de habilidades que o destaquem quase como heróis. Nas escolas, por exemplo, trabalham com algum tipo de recompensa para o aluno que se destaca, no trabalho acontece um processo similar, atualmente, existem famílias que estimulam os filhos com recompensas, até mesmo, compram um carro se o mesmo passar no vestibular – a ideia da meritocracia perpassada para este contexto social – o bullying, feito em diversos ambientes, é uma maneira do indivíduo tentar se destacar, pois tem a necessidade de dominação, digo isso porque existem sociedades em que não se reforça a individualidade como a que vivemos. O que fica evidente é uma estrutura social moldada para destacar sujeitos que realizaram feitos que mereçam determinada atenção, ora seja de uma maneira que a sociedade considere que são feitos bons, ou de maneira que a sociedade considere os feitos ruins.

No que tange as empresas, por exemplo, estão configurando-se para serem menores, uma espécie de unidade organizacional, e assim, conseguirem uma flexibilidade melhor na hora de tomarem uma decisão, pois a tecnologia e a velocidade da informação exige-se, no mercado hoje, que as organizações sejam mais arrojadas, consigam adaptar-se de maneira mais rápida as exigências do mercado. Não é novidade que atualmente, os indivíduos precisam estar preparados não apenas para serem empregados, para além de tal status, precisam ser líderes, possuírem características de liderança.

Ao mesmo tempo que a individualidade é reforçada, o homem é um ser social, isto é, tem necessidade de identificar-se com um grupo social, pois esta identidade faz parte da própria condição humana que, no instante em que se identifica com um determinado grupo, está necessariamente dizendo que não pertence a outro grupo. 

Repertório comportamental:

Atualmente, o público que consome a tatuagem é bastante heterogêneo, melhor dizendo, não tem como identificá-lo igual como a sociedade esforçava-se para fazer antigamente por exemplo, pois tentavam categorizar pessoas tatuadas em marginais – aqueles que vivem à margem da sociedade.

O comportamento de se tatuar é reforçado pelo própria simbologia do que é a tatuagem e de como tal arte é vista de maneira social, nesse sentido, vale destacar que, este nicho de mercado foi obtendo um melhor status social , no momento em que, os próprios profissionais começaram a formular uma percepção diferente deste ofício, uma vez que a transformação de um espaço para tatuar começou a ser visto como estúdio, a preocupação com a biossegurança e outras questões que perpassam, também, pelo próprio refinamento da técnica e mais, para além disso, em ultime análise, é possível perceber que o emparelhamento de estímulos, ou seja, a comparação, entre tatuagem e estética foram cruciais para a propagação heterogênea da tatuagem. 
Antigamente não se usava nem luva






Estúdio de tatuagem atualmente






O que se percebe é que a preocupação com o design do estabelecimento, os cuidados no tratamento com o cliente, o
desenvolvimento tecnológico dos equipamentos, o aprimoramento dos profissionais, mudou a cara da tatuagem, que passou a ser vista como, também, um procedimento estético, com isso reforça-se o consumo da tatuagem para os diversos segmentos sociais, ainda mais, para uma sociedade que busca, constantemente, maneiras de estimular o reconhecimento individual, gerando assim, mais autonomia do ser humano, uma existência particularizada.

Ora, qual a melhor maneira de expressão do sujeito enquanto um ser único do que a própria particularização do corpo através da tatuagem? Noutro polo de investigação deste fenômeno social, há que se dizer que ao mesmo tempo da existência da particularidade, tem-se a não individualização, pelo fato do sujeito tatuado encontrar-se na categoria dos indivíduos tatuados, o que é interessante porque, como dito no subtítulo ambiente, quando você não se identifica com um determinado grupo, necessariamente, possui algum outro grupo que irá identificar-se. Mesmo assim, na absorção de identidade de sujeito tatuado, possui também um contraste, dentro dessa mesma categoria, por que significaria a diferenciação da tatuagem do outro, nesse sentido, identificam-se discursos que legitimam a individualidade da tatuagem e a configuração que a mesma possui com a própria história de vida do sujeito.



Portanto, a arte de pigmentar a pele produz consequências que reforçam a prática dessa técnica, pois, a partir do significado de ter uma tatuagem e do significado da tatuagem propriamente dita, singularizam as pessoas que pertencem ao grupo dos tatuados porque por mais que estes sujeitos façam parte dessa categoria, a originalidade e/ou o significado da tatuagem em si, é que evidencia o individuo de maneira específica, única e em última observação a tatuagem é um reflexo de um conjunto ideológico acerca da visão de mundo do ser humano devido a construções ontológicas que o sujeito desenvolve pelo seu contexto histórico e o seu ambiente.               


























Jorge dos Santos - Psicólogo           
 
   
 
   


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